terça-feira, 26 de junho de 2007

Adotamos cegamente a moda mundial da vigilância eletrônica em locais públicos. O que já era previsível de um país tão desesperado por modelos a copiar. Assim como costume na Inglaterra, e posteriormente, nos Estados Unidos, começam a surgir câmeras não só em agências bancárias, mas em postes. Após o atentado terrorista de 11 de setembro o governo americano instalou circuitos fechados de TV nas ruas como precaução a novos ataques.



O Brasil segue a tendência americana. Embora longe de ser um sucesso de opinião pública nos EUA, o sistema foi implantado em São Paulo numa tentativa de conter a violência crescente na cidade. O que se sabe é que esta foi a explicação do Governo do Estado, porém, não se ouviram protestos de quem andava às ruas sem saber quem os espionava secretamente.



Em Curitiba, a proposta da ABiCam (Associação de Moradores e Empresários do Bigorrilho e Campina do Siqueira) de dispor câmeras por toda a quadra entre as ruas Martim Afonso e Padre Anchieta foi vetado pelo “forte” argumento do alto custo. O quesito privacidade sequer foi mencionado na reunião, uma vez que em São Paulo já é comum a vigilância pública.



Curitiba segue a tendência paulista. Agora, além de presentes e atentas em algumas ruas da cidade, as câmeras invadiram o campus universitário da UniBrasil. Os estudantes tiveram sua reação: apelidaram os corredores de Big Brother UniBrasil. Parecem animados com a chance de aparecer e, quem sabe, conquistar fama entre os monitores do circuito. Fato que seguramente seguirá às divertidas sessões de “Melhores Momentos do Dia” exibindo cenas captadas como quedas em câmera lenta, zoom em mini-saias e replay de amassos entre namorados.



A verdade é que não só perdemos a privacidade como nos tornamos tão vulneráveis quanto se pode – ou não – imaginar. Com cada passo gravado e cada atitude captada, como evitar que utilizem as imagens sem nenhum critério? Uma greve sem dúvida resultaria em boicote e uma situação constrangedora possivelmente ganharia destaque na Internet.



Embora junto com as câmeras sempre existe a pronta justificativa de aumentar a segurança, devemos ao menos nos perguntar até onde o pretexto é válido. O brasileiro facilmente esquece de questionar os limites quando existem assuntos mais quentes a comentar, como o flagra de Daniela Cicarelli transando na praia com o namorado, gravado por um espanhol.



Ser espiado não desestimula alguém a cometer um crime, muito menos o impede. Enquanto nem tudo é varrido pelos olhos eletrônicos, cabe a reflexão sobre privacidade em tempos de tecnologia.

George Orwell que o diga.

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Sebastião Salgado





"Eu gostaria de acreditar que essa inexplicável beleza

dos velhos fosse uma prova da existência da alma"






Mário Quintana